Congonhas e sua trajetória histórica
Congonhas, desde o seu surgimento no início do século XVIII experimentou diversos
fluxos migratórios que modificaram sua estrutura urbana.
Ainda no século XVIII o então arraial floresceu devido a uma verdadeira “corrida ao
ouro” com inúmeras áreas sendo garimpadas e com a presença de portugueses,
brasileiros, indígenas e os escravizados africanos. Essa mistura está presente nas
obras religiosas que podemos testemunhar nas igrejas do Rosário, Matriz, Ajuda
(Alto Maranhão) e Soledade (Lobo Leite).
Na segunda metade do século XVIII outra grande movimentação aconteceu em
virtude da promessa do minerador português Feliciano Mendes que introduziu em
Congonhas a fé e devoção do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, que logo se
transformou em Senhor Bom Jesus de Congonhas numa grande e perene peregrinação
que até os dias de hoje movimenta a cidade principalmente entre os dias 7 e 14 de
setembro, quando é celebrado o portentoso Jubileu dedicado ao Bom Jesus. Nesse
período afluem à Congonhas milhares de romeiros/peregrinos de todas as paragens de
Minas Gerais e de outros Estados brasileiros.
Mas a grande mudança aconteceu após a década de 1910 quando se iniciou de fato a
exploração de minério de ferro abundante nas serras vizinhas a Congonhas com a
presença de alemães, dinamarqueses e principalmente investidores do Rio de Janeiro
e São Paulo.
Devemos ainda considerar a presença de portugueses, espanhóis e italianos advindos
com a construção do ramal ferroviário que corta a região central da cidade.
E não podemos nos esquecer das presenças das três congregações de religiosos
católicos que aqui viveram entre os séculos XIX e XX. A primeira, e pioneira, foi a
Congregação dos Padres da Missão ou Lazaristas como eram conhecidos. Tinham
uma postura voltada para a formação rigorosa de sacerdotes, dentre eles o
congonhense Silvério Gomes Pimenta, que se tornaria Bispo e Arcebispo da Diocese
de Mariana, além de ter sido o primeiro Prelado negro a ter uma cadeira na Academia
Brasileira de Letras. Os padres Lazaristas ficaram em Congonhas entre 1827 a 1860 e
fundaram o Seminário. Outra congregação que aqui esteve foi os Maristas, de origem
francesa. Eram severos na formação sacerdotal, mas por razões políticas com a Mesa
da Irmandade do Senhor Bom Jesus ficaram pouco tempo em Congonhas – de 1896 a
1900. E por fim os Padres Redentoristas de origem holandesa. Transformaram
Congonhas entre os anos de 1924 a 1975. Fundaram o Colégio São Clemente
(Seminário Maior) e o Juniorato Santo Afonso (Seminário Menor - no prédio onde
atualmente funciona o Colégio Piedade). Além das obras sacerdotais, atuaram ativamente ao lado da comunidade congonhense em obras sociais como a construção
de igrejas, do cinema, hotel e captação de água, além de terem tido grande influência
na emancipação político/administrativa de Congonhas em 1938.
Essa mistura de culturas somadas à contínua presença dos romeiros/peregrinos
durante o Jubileu moldou o jeito de ser e de viver do povo congonhense,
influenciando seus costumes e deixando aqui sobrenomes como Parcus, Vartuli,
Candreva, Boratto, Weinschenck e tantos outros ainda vivos na memória de muitos
Ao longo de mais de 300 anos de sua fundação, a cidade recebeu influências da
arquitetura colonial portuguesa e também os estilos gótico e neoclássico da Europa. O
casario que restou no eixo entre as igrejas do Rosário passando pelas igrejas da
Matriz e de São José, até chegar ao Santuário do Bom Jesus nos permite observar
essa afirmativa.
Quando a cidade foi emancipada no final de 1938, as principais ruas e praças da
época receberam nomes que homenagearam seus benfeitores como a Av. Governador
Valadares e Rua Benedito Quintino que eram, respectivamente, o Governador de MG
e o Diretor do Instituto de Geografia e Estatística na época da emancipação. A rua
Barão de Congonhas leva esse nome em homenagem ao 2º Barão de Congonhas,
Lucas Antônio Monteiro de Castro, benfeitor que existiu por aqui assim como a rua
Monteiro de Castro homenageia José Monteiro de Castro, sobrinho do 2º Barão de
Congonhas que em sua trajetória política também colaborou com a cidade recém
emancipada. Além desses exemplos temos tantos outros que podem ser elencados
aqui.
As festividades são marcantes ainda em Congonhas como o reisado e congado, festas
que tem suas origens nos costumes dos primeiros africanos escravizados que para cá
vieram extrair ouro e pedras preciosas para “seus senhores” como se dizia na época
Outros costumes como o carnaval e festas juninas sempre foram incentivados por
grupos de famílias que viam nesses momentos a oportunidade de celebrar a vida com
muita alegria e animação.
Também merece destaque durante a década de 1970 em que alguns empreendimentos
de grande porte trouxeram a Congonhas inúmeras famílias advindas do nordeste
brasileiro em busca de melhores condições de vida. A construção da ferrovia do aço e
a também a construção da Usina Presidente Arthur Bernardes (Açominas)
proporcionaram a Congonhas experimentar um fluxo intenso de pessoas buscando
novas oportunidades de vida. Muitas delas deixaram para trás seu torrão natal e aqui
vivem até hoje.
E esse fluxo de pessoas ao longo de séculos influenciou também na culinária local
principalmente nas quitandas tão bem difundidas em nosso município.
Congonhas é uma cidade plural, de gente e de costumes, e que sempre está a se
reinventar.
André Candreva
Fontes de consulta:
- Atlas Geográfico de Congonhas (edição de 2009);
- Revista Congonhas – edição de 1982;
- Jornal Congonhas – edição de 1993;
Sites:
- Câmara Municipal de Congonhas
- Prefeitura Municipal de Congonhas
- Arquivo Público Mineiro
- Iepha
-Iphan
